A porta da rua
fecha-se devagar
Faz mu-num…mu-num,
porque é muito pesada
e está cansada.
A porta do elevador
tem voz áspera
porque nunca bebe óleo
à vontade.
– Ráade! – diz ela ao miúdo
– Fecha a grade, fecha a grade!
A porta do quarto
é uma porta sossegada,
faz fe-fe muito baixinho
e se puder não diz nada.
A porta do quarto de banho
está emperrada e tem tosse,
Quando a empurram
fica zangada!
– Ó senhora porta,
não foi de propósito…
– Fosse ou não fosse,
fosse ou não fosse!…
A porta da sala
gosta de nos ver entrar
e quando a gente sai,
chora:
– Sss-ss, não te vás embora.
– Zás!
Faz a porta da cozinha,
muito despachada.
Com mais força
só a porta do frigorífico
que já engoliu hoje
uma galinha assada,
um ananás
e um goraz.
Ao quarto do sótão
ninguém se lembra de ir
e a porta estala e fala sozinha:
– Truem, truem,
Truem- truir…
Os ratitos pequenos
passam a fugir
e lá dentro
só vai o vento.
Violeta Figueiredo